Em 1958, o Parque Novo Oratório, bairro no qual está localizada a Cidade dos Meninos, contava com um número considerável de famílias, formadas em sua maioria por trabalhadores das indústrias da região, como a Rhodia, Pirelli, Firestone e outras indústrias automobilísticas.
O bairro, um novo loteamento do município de Santo André, contava apenas com iluminação feita por lamparinas, não tinha pavimentação e apresentava dificuldades de locomoção. Apesar dos recursos escassos, havia a preocupação de transmitir às crianças um conhecimento didático e também religioso.
Da esquerda para a direita: frei Mariano e frei Pio, anos 1960.
Com a ajuda de frei Mariano Scaini, que já acompanhava a realidade da nossa população, e a chegada de frei Pio Populin, vindo da Itália e a sua experiência com crianças órfãs do período pós-guerra, as iniciativas educacionais e religiosas começaram a se tornar realidade, principalmente para acolher meninos que moravam na rua.
Frei Pio realizou um projeto grandioso para a Cidade dos Meninos, incluindo teatro, cinema, piscina, campo de futebol e esportes, escola primária, escola profisisonal, oficinas especializantes, almoxarifado, cozinha com refeitório, moradias, parque, pomar, horta e uma Igreja. O desenho da Igreja mostrava uma construção sofisticada, bonita, semelhante a uma nave.
Maquete da Cidade dos Meninos, 1960.
Em 8 de dezembro de 1959, mesmo sem a Igreja, frei Pio Populin celebrou a primeira Missa com a participação das famílias da região, na Rua América do Sul. Surgia, assim, a Comunidade Maria Imaculada. Até 1965, as missas eram celebradas na Rua Batávia, em uma sala da Cidade dos Meninos.
Local onde foi celebrada a primeira Missa.
No projeto de frei Pio para a Instituição, também seria construído um convento, para abrigar os frades que trabalhariam neste Serviço. Com os desdobramentos na Província, foi preciso introduzir um seminário no local: o Seminário da Cidade dos Meninos.
Com a conclusão da obra, em 1967, as missas começaram a ser celebradas neste espaço. Com a proximidade entre a Comunidade e o Seminário, houve grande participação dos jovens e criou-se um forte elo entre a igreja e o povo.
Frei Luiz Favaron com crianças em frente ao Seminário da CM, 1967.
No ano de 1982, foi necessário entregar o prédio do Seminário para a implantação de um hospital. As celebrações passaram a ser realizadas em um salão adaptado, no próprio terreno da Cidade dos Meninos. Por escassez de verbas, não havia sido possível inicar o projeto da Igreja, conforme desenhado por frei Pio.
Diante do crescimento da Comunidade, era necessário providenciar um lugar definitivo para a construção da igreja.
Celebração de Santo Antônio no salão adaptado, anos 1980.
Construção da Igreja, 1989.
Após muito diálogo e aprovação na Prefeitura, frei Roberto Tóttoli concluiu que o local mais indicado seria a esquina da Rua Batávia com a Rua Fenícia. A Comunidade ficaria a 190 metros da Cidade dos Meninos, no mesmo quarteirão.
Com o auxílio de alguns benfeitores, familiares e da Ordem dos Frades Menores Conventuais da Província de Pádua (Itália), frei Roberto iniciou edificação da obra, em 1988.
À época, a Comunidade Maria Imaculada e a Cidade dos Meninos passaram a ser dirigidas por diferentes frentes, cada uma caminhando à sua maneira.
Em 10 de dezembro de 1989, a Capela Maria Imaculada celebrava a inauguração de seu novo espaço, que contou com o traslado da imagem de Maria Imaculada e a primeira Missa, com a participação de Dom Cláudio Hummes, então bispo de Santo André.
Em 6 de junho de 1993, Dom Cláudio também realizou a Consagração da nova Igreja.
Frei Roberto também encomendou ao artista italiano Gianni Parziale cinco obras que, em 3 de setembro de 1996, foram tombados como Patrimônio Cultural pelo Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico Artístico Arquitetônico-Urbanístico e Paisagístico de Santo André (Comdephaapasa): “A Santa Ceia”, “O Cristo no Jardim das Oliveiras”, “O Cristo Crucificado”, “Vida, Martírio, Morte e Glorificação de São Maximiliano Kolbe” e a “Via Sacra”.
Gianni Parziale criou os painéis em diversos tamanhos, utilizando Técnica Mista, compensados de madeira naval preparados com estuque, resina para adesão das cores e diferentes tipos de materiais.
“Vida, Martírio, Morte e Glorificação de São Maximiliano Kolbe”, Gianni Parziale.
Frades da Província São Francisco de Assis durante Capítulo Provincial, 2021.
Ainda sob responsabilidade dos Frades Menores Conventuais, a Capela Maria Imaculada foi erigida a Paróquia no ano de 2019
No Capítulo Provincial de 2021, a Província São Francisco de Assis decidiu novamente aproximar as duas realidades, Paróquia Maria Imaculada e Cidade dos Meninos, cuja motivação de ambas é a mesma desde a sua fundação: ser um Serviço Franciscano de Evangelização.
Meditante o dinamismo de frei Rafael Gomes da Silva e de frei Josemar Bertes Machado, a Cidade dos Meninos e a Paróquia Maria Imaculada tornaram a estreitar relações, reatando seu propósito fundacional de construir um mundo onde as pessoas tenham vida digna e compromisso como Irmãos.
A Cidade dos Meninos tem novamente uma Comunidade para vivenciar a fé e a Paróquia Maria Imaculada tem um Serviço Franciscano de Evangelização para realizar os seus gestos concretos.
Grupo do Centro da Juventude na Paróquia Maria Imaculada, 2022.
Lúcio Américo
Neste quadriênio, a Província São Francisco de Assis será inspirada pela parábola do Bom Samaritano, que nos ensina sobre a compaixão: o Samaritano tira sua veste para cobrir o caído, mostrando que a compaixão passa pelo resgate da dignidade e pela igualdade.
Durante esses quadro anos, somos convidados a mergulhar na Palavra de Deus e a sermos Bons Samaritanos.
Como bem nos recorda a relação de São Francisco de Assis para com o Leproso, “aquilo que me parecia amargo, converteu-se em doçura da alma e do corpo.” (Testamento 3)
